A escola tem papel fundamental na formação pedagógica e social das crianças e adolescentes, e por isso há espaço também para tratar de temas considerados “tabus”. Na Escola Municipal José Dorilêo de Pina, no Bairro Alves Pereira, a direção escolar desenvolve o projeto ” Acolhimento Menstrual”, que transmite conhecimento em relação a menstruação, além de preparar e acolher as alunas. Porém todos os estudantes participam das rodas de conversa, palestras e também da distribuição de absorventes.
A diretora Maria de Fátima Moraes criou, há mais de uma década, uma estratégia para auxiliar o entendimento desta fase tão delicada da puberdade feminina. O projeto teve início após a direção perceber a falta de conhecimento a respeito do próprio corpo, pois muitas alunas eram surpreendidas com a primeira menstruação e não demonstravam ter qualquer tipo de conhecimento, além de enfrentarem outras situações como a gravidez na pré-adolescência,
“Eu percebi que as meninas faltavam aula em determinado período e os pais não tinham conhecimento. Descobrimos que era por conta da menstruação. Muitas não sabiam o que era aquilo, outras não tinham condições de comprar absorventes, por isso decidimos agir”, explica Maria de Fátima.
A partir daí, a escola passou a adquirir absorventes e distribuí-los para as alunas em situação de vulnerabilidade social, além de acolhê-las e promover palestras para todos os alunos em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e profissionais da saúde que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) próximas da escola. Rapidamente houve uma mudança, com a diminuição da evasão e o aumento do rendimento escolar, levando dignidade e segurança às alunas.
Soraia Solon, coordenadora da Liga Acadêmica Multidisciplinar de Saúde – que reúne acadêmicos de diversos cursos da área da saúde da UFMS -, explica que ações assim são importantes para a promoção da escola como um local seguro de acolhimento e para que todas as dúvidas relacionadas à puberdade sejam solucionadas. “Nós oferecemos essas oficinas participativas e reflexivas onde o ideal é a formação de multiplicadores para educação entre pares, em grupo. Nós queremos levar conhecimento e fortalecer o acesso do jovem à atenção básica em saúde”.
E para os alunos, o trabalho realizado já surte efeito e o ambiente escolar é considerado seguro para que eles tirem as dúvidas em relação a saúde e os cuidados necessários. A aluna Jéssica Kovacs Tavares, do 7° ano, afirma que as oficinas trazem muito aprendizado a respeito de temas como tipos de absorventes, ovulação, fertilização e higiene da mulher. “Tem muitas meninas que ainda não menstruaram, mas que irão menstruar futuramente e que precisam desse apoio. Agora que entendo um pouco mais, quero ajudar e dizer a elas que vai ficar tudo bem, que isso é só um ciclo que todas as mulheres irão passar”.
O ambiente acolhedor onde a menstruação é tratada com naturalidade e debatida por meninos e meninas, facilita o diálogo entre alunos, professores e demais funcionários. “Às vezes, os próprios meninos vêm até a direção e pedem o absorvente para alguma colega e também entendem quando as meninas estão num período mais sensível ou com cólicas, que antecede a menstruação”, afirma a diretora.
A lei que institui o “Programa Dignidade Menstrual” no município de Campo Grande foi sancionada no dia 26 de agosto como parte da comemoração do aniversário da cidade e prevê a implantação do mesmo na Rede Municipal de Ensino (Reme). O objetivo é a distribuição de absorventes higiênicos descartáveis para todas as estudantes em situação de vulnerabilidade social, como garantia de que elas continuem frequentando as aulas.
A Secretaria Municipal de Educação (Semed) vai atuar com orientações nas unidades escolares, além da distribuição dos absorventes e acompanhamento da frequência das estudantes. Também cabe à pasta orientar as escolas para que promovam rodas de conversas e outras formas de diálogo para conscientização sobre os cuidados com a saúde, bem como o acompanhamento das estudantes para evitar evasão escolar por conta de situações envolvendo o período menstrual.
Para a secretária municipal de Educação, Elza Fernandes, o projeto agrega o que já ocorre nas unidades escolares. “É um projeto de grande importância para as nossas jovens alunas. Muitas vezes as famílias não dispõem de recursos para comprar o absorvente, podemos pensar que é algo simples, mas para muitas meninas é algo inacessível e possibilitamos qualidade para que ela frequente a aula e tenha uma vida normal, como deve ser”.
› FONTE: PMCG