Há sete meses em tratamento contra a adicção em uma comunidade terapêutica, Diego Godoi, 32 anos, veio de Umuarama onde trabalhava como tapeceiro. “Comecei a usar drogas com 14 anos e aos 20 caí no crack. De todos os lugares por onde passei, foi em Campo Grande que consegui acolhimento para me tratar contra o vício. Isso inclui até mesmo reatar os laços com minha família. Faltando ainda cinco meses para terminar meu tratamento, dentro da comunidade fiz cursos de horta convencional e hidropônica, e também de manipulação de alimentos. Finalizei o ensino fundamental pela EJA e estou quase pronto para viver novamente lá fora”, conta ele com emoção.
Vagner Gomes de 32 anos, é natural do Rio de Janeiro. Aos 15 anos começou a usar drogas e se tornou andarilho, pessoa que anda sem destino por estradas, passando de cidade em cidade. “Há mais de 2 anos iniciei o tratamento em uma comunidade terapêutica. Estou limpo e hoje trabalho na própria comunidade, onde vendo os produtos que lá são produzidos pelos acolhidos em tratamento. Além disso, distribuo pães em vários pontos da cidade”, conta o carioca agora apaixonado por Campo Grande.
“Esse dia serve como para refletir sobre todos aqueles que usam a rua como moradia. Nós como instituição e sociedade não podemos fechar os olhos para um tema tão importante e sensível, que envolve a vida dessas pessoas. Estamos aqui hoje para apresentar esse projeto, que é oferecido pela Prefeitura em parceria com várias instituições e comunidades terapêuticas que nos ajudam garantindo dignidade a quem precisa desse acolhimento”, aponta Amadeu Borges, subsecretário da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos.
Diego e Vagner têm algo em comum, além do tratamento em Comunidades Terapêuticas (CTs) eles e mais outros assistidos das 11 instituições parceiras de Campo Grande puderam expor seus produtos, resultados de oficinas ministradas para os acolhidos quando estão em fase de tratamento dentro das CTs, nesta sexta-feira (19).
As produções foram disponibilizadas na IV edição do Arte, Cultura, Educação e Direitos Humanos, promovido pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos (SDHU). A ação aconteceu no Teatro de Arena do Horto Florestal, em uma ação alusiva a comemoração dos 123 anos da Capital. Entre os itens estavam artesanato, pães, hortifrútis, conservas e mudas de plantas ornamentais.
O subsecretário de Defesa dos Diretos Humanos de Campo Grande, Amadeu Borges explica que a data foi escolhida para o evento em homenagem às vítimas da Chacina da Sé, em 2004, quando ocorreu o maior assassinato contra a população em situação de rua da cidade de São Paulo.
Apoio do poder Executivo
Representando a Federação Sul-mato-grossense das Comunidades Terapêuticas (Fesmact), Scheila de Fátima Matheus aponta que só é possível realizar esse trabalho graças ao apoio do poder público. “Hoje, nós temos acesso a atendimentos de saúde pública e aos cursos profissionalizantes, graças ao apoio da gestão municipal, que sempre tem nos estendido as mãos, e nós agradecemos por terem esse olhar sensível junto ao nosso trabalho”.
Para a diretora-adjunta da SDHU, Bárbara Cristina Rodrigues, a integração dessas atividades é de extrema relevância como ampliação do atendimento terapêutico. Bárbara também comemora os resultados dos trabalhos da SDHU, um referencial em outras cidades do Estado. “Pelos nossos resultados positivos já estamos convidados a palestrar em Dourados, Caarapó, Corumbá e Três Lagoas”, afirma.
A ação dá continuidade às atividades do Programa de Ação Integrada e Continuada (PAIC), desenvolvido pela SDHU, que proporciona a efetivação das políticas públicas voltadas para população em situação de rua, desde março de 2018, baseado no Decreto 7.053 do Comitê POP Rua, da Coordenadoria de Proteção a População de Rua e Políticas sobre Drogas (Coprad).
› FONTE: PMCG