A cultura de rua, em todas as suas formas e estilos, será o foco do festival “Campo Cultural”, que acontece de 22 de novembro até o dia 5 de dezembro, colocando em evidência o lado mais urbano de Campo Grande. As atrações vão do rap ao graffiti e do skate ao audiovisual. A noite de encerramento do festival (05/12), inclusive, será dedicada ao rap, com nomes importantes como Dexter, Cris SNJ, DJ Gio Marx e DJ Magão.
O maior festival do segmento que Campo Grande já viu chega com uma programação extensa, com mais de 60 atrações ligadas à cultura de rua. Essas atrações vão ocupar vários espaços da Capital, como a Praça do Rádio, com o Palco “Tráfico de Informações”, que será o epicentro das atividades. De 26 de novembro a 28 de novembro, e nos dias 3 e 4 de dezembro, o público poderá conferir apresentações de slam, breaking, performances e shows de rap.
A programação do “Tráfico de Informações” inclui shows com MCN, Mel Dias, Lili Black, Falcão, Becky Bee, Falange da Rima, Rapper Amém, CPS, Vadios67, entre outros artistas da Capital. O interior do Estado também será representado por shows de Miliano, de Dourados; Lavoro, de Nova Andradina; Da Front, de Ponta Porã e Enio CRX, de Corumbá, entre outros. “Ocupar a Praça do Rádio com esses músicos é um marco, é um reconhecimento histórico”, comemora a curadora Lidiane Lima.
Expressão artística
Basta um passeio rápido pelas principais vias de Campo Grande, para perceber que o graffiti já se incorporou à vida na cidade. Talvez uma das mais democráticas expressões artísticas, essa forma de expressão nasceu e se desenvolveu nos contextos urbanos. Dentro do “Campão Cultural”, ela é destaque com as intervenções batizadas de “Loucos pela Cidade”. Oito artistas transformarão muros e paredes em obras de arte com tinta, spray e muita criatividade.
Quem participa da ação é Rafamon (RJ), Amarelo (MS-SP), João Ravnos (MS), Curumex (MS), Tita Vilalba (MS), San Martinez (MS), Hero (MS) e Mareco MRCO (MS).
Um dos convidados a participar desse encontro é Kleyton Soares. Embora tenha nascido em Diadema, São Paulo, ele chama Campo Grande de cidade natal. Foi por causa das brincadeiras pelo Lar dos Trabalhadores, bairro na Zona Norte da cidade, que ele recebeu o apelido que se tornaria sua assinatura artística: Amarelo. “Comecei no skate, conheci o pessoal do hip-hop e logo estava pintando muro com a galera. Fui um dos primeiros, ainda em 2002”, ressalta.
Amarelo recorda que, embora atualmente seja comum encontrar murais enormes pintados em grandes cidades, em 2002 o cenário era bastante diferente. Em Campo Grande, uma capital em desenvolvimento, era ainda mais raro encontrar esse tipo de arte. “Tudo era mais complicado. Encontrar material, buscar referências, saber se a gente estava fazendo as coisas do jeito certo. Não tinha internet, não tinha como saber”, descreve.
Com o tempo, no entanto, as mudanças vieram e, à medida que se aperfeiçoava, chegavam convites para grafitar em outras cidades de MS. Depois, em outros Estados. E, assim, Amarelo começou a alçar voos cada vez maiores. Hoje, o artista vive em São Paulo, mas mantém laços fortes com a comunidade sul-mato-grossense onde tudo começou. Para ele, a cultura de rua foi um divisor que o permitiu conhecer novos mundos.
“O graffiti tinha um lado social muito forte, era comum a galera se reunir e passar a tarde ou a noite pintando”, recorda. “Estou voltando com uma bagagem legal, vou rever muita gente e deixar uma marca na cidade. Vai ser demais este festival”, afirma Amarelo.
Além das tintas, “Loucos Pela Cidade” também reserva espaço para a Cultura Vogue, para o Sound System, para a break dance e para a cultura funk, com o famoso “Passinho”. As intervenções acontecem na 14 de Julho. “Cultura de rua é um fenômeno muito abrangente e complexo. Ela é fruto da diversidade e é um elemento de transformação, por isso, conversa com a cidadania”, aponta Amarelo.
Era uma vez o Rap
Magão Souza, o DJ Magão, também presenciou os primórdios da cultura hip-hop em Mato Grosso do Sul. Ele é o convidado para abrir a noite de encerramento do festival, no dia 5 de dezembro, no Palco Mestre Galvão, e também se apresenta com seu grupo Falange da Rima, no palco “Tráfico de Informação”.
Do início dos anos 90 até hoje, muita coisa aconteceu e a cena de rap e hip-hop no MS evoluiu muito, apesar de ainda enfrentar resistência. “No início era complicado, a gente precisava explicar o que estava fazendo, e quando íamos para fora do Estado, as pessoas se espantavam com a gente fazendo rap no meio do Pantanal. Era a visão que se tinha daqui”, lembra Magão.
Para ele, a existência de um festival como o “Campão Cultural”, no qual o rap e a cultura de rua ocupam um espaço significativo, é o reconhecimento de toda uma história e de todos que seguiram acreditando nessa forma de arte. Embora o hip-hop tenha se popularizado e hoje seja utilizado até mesmo como peça de marketing por grandes marcas, a base de tudo é e sempre foi a rua.
O festival acontece em um momento especial para o DJ, que também comemora os 20 anos de lançamento do primeiro EP do Falange da Rima, “Mariposa Assassina”, lançado em setembro de 2001. O grupo veterano se apresenta no dia 27 de novembro, na Praça do Rádio. “Vai ser uma grande comemoração. Se alguém me falasse que a gente iria tocar em um festival desse tamanho, na nossa cidade, eu responderia: ‘Mano, você tá viajando!’. Queimei minha língua, ainda bem”, finaliza.
› FONTE: PMCG