Muletas, cadeiras de rodas, andadores, carrinhos de bebê, bengalas e vendas nos olhos. Esse foi o material usado na caminhada sensível, proposta pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) , durante a Semana de Capacitação prática sobre mobilidade, desenvolvimento inclusivo e igualdade de gênero, desenvolvida pelo Programa Reviva Campo Grande, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A experimentação foi feita por um grupo de 50 pessoas na manhã desta quinta-feira (1), na Rua 15 de Novembro e na Praça Ary Coelho, bem na região central de Campo Grande. Servidores municipais de várias secretarias, arquitetos e sociedade civil organizada foram às ruas e se colocaram no lugar do outro para identificar como é a mobilidade e acessibilidade de grupos vulneráveis, como cadeirantes, idosos, pessoas com deficiência e mulheres com crianças. Eles consideraram os obstáculos como degraus, raízes de árvores e calçadas estragadas.
Essa não foi a primeira vez que a arquiteta e urbanista Elaine Laneu participou de uma experiência dessas. Para ela, se colocar no lugar de quem não enxerga foi o mais difícil. “Sem a visão não tem orientação, não sabe o que está na frente, no lado. O ambiente como um todo quando você não vê, te dá bastante receio. O meio fio do contorno da praça fica bastante inseguro”.
A profissional avalia que quem tem a mobilidade reduzida acaba tendo menos segurança de estar na rua. “Você sente várias coisas durante o experimento, foi difícil manusear a cadeira de rodas, quando coloquei as muletas senti dor no ombro e a bengala dos cegos é pesada, dói o pulso, a mão. E foram só alguns minutos, imagine uma vida inteira assim”.
Projetos de acessibilidade
A representante do ITDP, Danielle Hoppe, destaca a importância da caminhada para o desenvolvimento de projetos do poder público. “É uma sementinha que a gente está plantando, nos momentos em que as pessoas se colocam no lugar de outro, vamos criando essa consciência de que quando estamos desenhando um projeto urbano esses detalhes de acessibilidade, esse degrau, essa altura, são indispensáveis para uma criança, um idoso, alguém em uma cadeira de rodas, por exemplo, que eles são realmente importantes para dar acesso à cidade de uma maneira mais democrática. Quando compreendemos o porquê de fazer esses detalhes no projeto, acabamos incorporando no dia a dia”.
Danielle ressalta que essa elaboração de projetos deve partir de uma equipe multidisciplinar, com profissionais de várias áreas, como arquitetos, engenheiros, biólogos, entre outros. “A questão da arborização urbana tem conflitos muito grandes com acessibilidade. Às vezes, temos árvores que acabam atrapalhando. Precisamos capacitar e sensibilizar todas as profissões, todos que trabalham com a gestão urbana para que seja integrado e integral, fazer uma cidade para todo mundo”.
Com o curso, a proposta é capacitar os atores locais com conteúdo técnico relevante para o desenho e a implementação de intervenções urbanas orientadas a melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos. Após a experimentação, as observações serão encaminhadas ao Poder Público para que sirvam de base para a execução dos princípios de igualdade em obras futuras a serem feitas nas ruas transversais a 14 de Julho.
› FONTE: http://www.campogrande.ms.gov.br